terça-feira, 15 de março de 2011

Conferência no Museo Arqueológico Provincial de Badajoz


aqui anteriormente noticiámos a participação do Projecto ESTELA dentro do ciclo de conferências do primeiro semestre de 2011 do Museo Arqueológico Provincial de Badajoz que teve lugar no dia 5 de Março pelas 11h30m locais, com a apresentação da conferência: “A escrita do Sudoeste e a Idade do Ferro no Sul de Portugal”.


Resumo:

O Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA) criado em 2007 em torno de um dos maiores ícones da Idade do Ferro do Sul de Portugal (Baixo Alentejo/Algarve) – as estelas com escrita do Sudoeste – reflecte a preocupação em valorizar este património arqueológico.
O espaço geográfico do fenómeno da Escrita do Sudoeste, que se estende entre a Extremadura (Espanha) e o Algarve (Portugal), conta com uma maior concentração, entre um agrupamento no barrocal algarvio, e um interior alentejano no Alto Mira e Alto Sado, observando-se ainda nas serras de Mú e Caldeirão, um importante conjunto localizado na transição do Alentejo e do Algarve, cuja centralidade na dispersão das estelas epigrafadas não será displicente.
A discussão dos modelos explicativos da chamada I Idade do Ferro é objecto de debate, onde o problema da cronologia é perspectivado a dois níveis num evidente desequilíbrio: a componente epigráfica e linguística e a componente arqueológica. Uma vez constatado o reiterado cariz de reutilizações tardias das estelas, isto é da sua relação secundária com as necrópoles, verifica-se um desencontro temporal entre a cultura material conhecida no registo arqueológico, essencialmente a partir do século VI a.C., e algumas propostas que sugerem uma datação mais recuada atribuída à escrita do Sudoeste.
Esta manifestação epigráfica, conhecida como “escrita tartéssica”, corresponde a realidade material cujos vestígios se dispersam pelo Sudoeste Peninsular, razão pela qual me parece adequada designá-la também como “escrita do Sudoeste”. Os documentos até ao momento identificados, que rondam aproximadamente uma centena, representam a mais antiga escrita local documentada na Península Ibérica. A cronologia do fenómeno e em especial a das suas manifestações mais precoces é bastante discutida, situando-se, de qualquer modo, no âmbito da chamada I Idade do Ferro.
Reconhece-se no sistema de signos então criado uma dependência directa do alfabeto fenício (com eventuais contributos de outra origem, segundo algumas propostas), o qual servir de base a um semi-silabário hispânico. Embora se conheça um elenco dos seus caracteres, em número de 27, através de um documento proveniente da localidade alentejana de Espanca (Castro Verde), a contabilidade do conjunto de signos é superior, o que amplia as incertezas originárias a respeito do valor fonético de todos os grafemas. Esta dificuldade parece acentuar-se com alguns novos achados em que ocorrem novas formas de alguns signos. Sem resolver esta questão, o projecto ESTELA procurará contribuir para uma análise do sistema e das suas variantes.
A natureza fragmentária de muitos dos monumentos epigráficos, o facto de os textos serem bastante breves (o mais extenso ultrapassa em pouco os 80 caracteres) e a inexistência de textos bilingues são algumas das razões pelas quais continua a considerar-se enigmático o significado destes textos. Assinala-se, todavia, a recente proposta da sua vinculação a uma língua céltica, proposta que contraria a sua tradicional interpretação como uma língua não-indoeuropeia desta região meridional.
A necessidade de pôr à disposição de todos informação sobre esta temática e a sua expressão, resultou no projecto ESTELA – Sistematização da Informação das Estelas com Escrita do Sudoeste. Através da caracterização dos contextos arqueológicos (apoiada em reconhecimentos no terreno, no estudo de colecções e na documentação de museus) pretende-se contribuir para a revisão dos conhecimentos sobre uma sociedade que produziu esses monumentos, tentando compreender as directas relações entre espaço habitacional, o mundo funerário e as inscrições e fornecer mais dados para a explicação desta cultura. Não se pretende deslindar o que nos querem transmitir, mas sim tentar compreender quem nos quer transmitir.
O projecto procura ainda conjugar a salvaguarda, a valorização, a educação e a fruição das paisagens culturais. A sistematização da informação arqueológica irá permitir a sua dinamização e gestão sustentada, o planeamento das actividades museológicas e o desenvolvimento de parcerias, mas sobretudo transpor um Museu para o Território como reflexo e reconhecimento deste elemento de originalidade, factor de diferenciação e afirmação da identidade, memória histórica da primeira região com escrita no contexto peninsular.

Gostaríamos de agradecer o convite e a amabilidade com que fomos recebidos pelo Director do Museu: Manuel de Alvarado.

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